Foto de Gabriel Marinho
Acabo de
ler o livro Noites Festivas de Junho – Histórias e representações do São João
no Recife (1910 – 1970) -, 272 páginas do historiador Mário Ribeiro dos Santos,
publicado com o incentivo do FUNCULTURA. O autor é doutor em história pela UFPE
e é professor na Universidade de Pernambuco; Publicou Trombones, tambores,
repiques e ganzás: A Festa das agremiações carnavalescas nas ruas do Recife
(1930 – 1945); organizou o livro Quadrilhas Juninas: Continuidades e
(des)continuidades nos caminhos da festa e mais dois livros intitulados Nos
Arrais da Mamória: As quadrilhas juninas descrevem diferentes histórias, o
segundo em parceria com o historiador Carlos André Silva de Moura.
O livro,
apesar da densidade própria da historiografia, traz em seu léxico a leveza de
uma escrita fluente, fruto, para além dos títulos acadêmicos, da pena de um
escritor. Dividido em quatro capítulos, Noites Festivas de Junho inicia sua
viagem no tempo explorando as pesquisas de três letrados, como Ribeiro
qualifica os folcloristas e memorialistas Mello Moraes Filho, Pereira da Costa
e Mário Sette. Nos três observa o saudosismo e a busca abstrata e irreal da
unidade essencial e identitária dos festejos pretéritos, caracterizados pela
pureza, ingenuidade e sociabilidade.
Segue analisando
os noticiários da imprensa, que se divide entre a afirmação das tradições
pernante a classe trabalhadora e o revisioniosmo colonialista das elites frente
as influências estrangeiras e os conceitos de moderno e urbano, com as ruas
induzidas a caricaturar as heranças do interior, dos matutos e os clubes
vestindo a rigor uma elite com complexo de vira-latas embalada pelas Jazz
Bands. Como, com pertinência, nos antecipa no prefácio o Prof. Dr. Flávio
Weistein Teixeira “desde o investimento do Estado Novo (leia-se Agamenon
Magalhães) em modalidade de festa que procurava dar relevo às apresentações de
uma identidade coletiva destituída de conflitos..., a ser reforçada sobretudo
entre os trabalhadores e extratos subalternos...”atendendo a objetivos políticos
dirigidos por um ponto de vista utópico de que os agentes sociais são passíveis
de acomodação a condições preconcebidas como humanitárias.
Num paralelo
histórico que se reinventa a partir da concepção estadonovista, a ditadura
militar iniciada em 1964, acrescenta o sentido de valor simbólico, atrelando a
cultura ao turismo, exaltando e embalando com papel de presente as expressões
consolidadas nos mais distantes rincões, como algo exótico, característico da
identidade nacional e, por isso, objeto de atração e venda para visitantes
internacionais, sem deixar de revelar vozes que se levantaram contra a
espetacularização do fazer comum dos pobres, reduzindo-o a produto comercial.
O livro
Noites Festivas de Junho – Histórias e Representações do São João em Reci (1910
– 1970) apresenta os festejos joaninos para além do equivocado olhar unilateral
e previsível, aponta com maestria para realidades condicionadas por diversas
intencionalidades, relevando um panorama muito caleidoscópico do que monocular.
Ivan Marinho de Barros Filho
Professor, especialista em Economia da Cultura, escritor e
artista plástico.