quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CUBA e FIDEL, no livro A ILHA, de Fernando de Morais

                                                                                               Foto de Gabriel Marinho

A ILHA (Um repórter brasileiro no país de Fidel Castro), republicado em sua 29ª edição em 1989, pela Editora Alfa-ômega, com 176 páginas, é fruto de uma visita “investigativa” do mais renomado biógrafo brasileiro, Fernando Moraes, a Cuba, 17 anos após a independência daquele país do julgo imperialista dos Estados Unidos da América.
                O jornalista, detentor do Prêmio Esso de Reportagem, não se satisfez em recolher dados estatísticos ou de arquivos gerais, nem tão somente o ponto de vista oficial de representantes do poder, buscou impressões das pessoas comuns, como estudantes, agricultores, taxistas..., constatando na diversidade a presença conceitual de um valor onipresente, o da dignidade e humana. Disserta sobre o cotidiano, sobre a cultura, a urbanidade e a ruralidade, a educação, a saúde, a comunicação, a mulher, as eleições, a justiça, a reforma agrária, a economia, em fim, a revolução a cada dia, sintetizada, na abertura do livro, num poema de Agostinho Neto, do livro Poemas de Angola, que diz:

Mantivemo-nos firmes: no povo
Buscáramos a força
E a razão.

Inexoravelmente
Como uma onda que ninguém trava
Vencemos.
O povo tomou a direção da barca.
Mas a lição lá está, foi aprendida:
Não basta que seja pura e justa
A nossa causa.
É necessário que a pureza e a justiça
Existam dentro de nós.

                O repórter, que esperou sessenta dias entre o quarto do hotel e as estâncias diversas da ilha, aguardando o encontro com Fidel Castro, confessou ter muitas surpresas com a Cuba real, entre elas a da generalidade de homens sem barba, cultivada pelo sinal de respeito aos que se destacaram e distinguiram pela luta corporal nas guerrilhas. Surpreendeu-se também com a ausência de policiamento nas ruas, justificada posteriormente pela existência dos Comitês de Defesa da Revolução, o CDR, presente em cada quadra, em cada rua e representado por moradores. Desvendava-se-lhe que a revolução em Cuba não era um marco de tomada do poder, mas o processo cotidiano de transformação política, econômica e social e Fidel, a grande liderança que, desde o período da luta armada, discursava para todos, aliados e adversários, num processo de educação e reeducação conceitual que substituía a paisagem individual pela coletiva e os fins pelos meios, numa construção constante, permeada pela humanização e justiça.
                Sempre que Morais sondava contradições, vícios capitalistas, ouvia do cidadão ou cidadã comum: Isto era na Cuba pré-revolucionária! Assim foi com relação a dois temas recorrentes, a prostituição e a droga.
                Mas é nas relações internacionais que se demonstra a percepção diferenciada do olhar revolucionário. Fernando Morais, como se tentasse encontrar algo que se assemelhasse à realidade condicionada e condicionadora da visão competitiva, testa o posicionamento de Fidel com medidas de troca, numa espécie de câmbio político, como por exemplo, qual concessão faria Cuba perante o desbloqueio parcial por parte dos EUA? Ao quê o comandante repudiava  argumentando que, sendo o bloqueio uma injustiça, não se justificava em sua integridade, não havendo espaço para negociações parciais. Ainda mais profundamente, ele responde à indagação sobre se tiraria suas tropas de Angola se acaso os EUA encerrassem o bloqueio econômico, dizendo que, sendo o apoio para libertação de Angola uma ação de justiça, não havia como transformá-lo em moeda de troca para atender interesses exclusivamente cubanos.
                A linguagem do livro, com fluência e economia, fazendo jus a atividade de um jornalista, torna-se ainda mais convidativa pela busca tácita de significância. Não pretende apenas mostrar, mas testemunhar, convencido que se fez perante o sacerdócio revolucionário do comandante Fidel Castro.

Ivan Marinho de Barros Filho é especialista em Economia da Cultura, artista plástico e poeta.

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