Por Ivan Marinho
Resenha do livro “Privataria Tucana”, em tempos de
moral exacerbada.
O poeta Erickson Luna costumava dizer que “o poder se estabelece sobre a
ignorância” e Jesus Cristo (Mt. 7:4) “...como podes dizer a teu irmão:
Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu?”.
Com um olho no padre e outro na missa, inicio esta resenha confrontando
o moralismo salvacionista dos insaciáveis tucanos - aves com bicos maiores que
as moelas – e o período do maior saque ao patrimônio do povo brasileiro, o da
“Privataria”.
O detalhamento deste saque não caberia numa reportagem de jornal ou revista,
como declara Amaury Ribeiro Jr., autor do livro A Privataria Tucana. Portanto,
numa resenha, não caberia, sequer, as cifras expostas por este premiadíssimo
repórter investigativo.
O livro trata de como o PSDB, através de seus caciques famintos, criou
uma teia de relações, a partir de bancos públicos, privados, empresas e um
amontoado de offshores criadas em paraísos fiscais para lavar dinheiro das
privatizações, servindo ao enriquecimento ilícito de seus pares, bem como a
campanhas políticas, como constata o autor. Iluminados pela iniciativa da
primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, que pulverizou entre muitos as
ações das estatais inglesas, o modo “brasileiro” buscou um caminho mais fácil,
segundo o livro: Entregar, de mãos beijadas, nossas empresas a poucos amigos,
apontados a dedo.
Tão vorazes se apresentaram os tucanos que seu grande líder, alcunhado
FHC, ordenou: “... vender tudo o que der pra vender”. E foi tão obediente seu
fiel escudeiro e ministro José Serra que, mesmo a Companhia Vale do Rio Doce
faturando US$ 2 bilhões por ano e sendo agraciada com a descoberta de uma
imensa jazida de ouro, bradou: “A descoberta desta mina não altera em nada o
processo de privatização. Só o preço poderá ser maior”.
No final das contas, olhando para o ícone da justiça, que se levanta com
força sobre um governo popular, pergunto-me se está com a venda, sem venda ou à
venda. Bom, depois do juiz Lalau e os grampos encomendados por Moro, acredito
que cidadãos não serão penalizados pela literalização do verbo vender, não é?
Voltando ao final das contas, o jornalista Aloysio Biondi no livro
Brasil Privatizado – Um Balanço do Desmonte do Estado, citado no A Privataria
Tucana, esclarece que em 1998, já leiloadas grandes empresas como a Vale,
Embraer, Usiminas, Copesul, CSN, Ligth, Acesita e as Ferrovias, o que se
propagandeava como lucro pra saúde e educação do Brasil, “surpreendia-nos” com
um grande prejuízo. “Enquanto o governo FHC afirmava ter arrecadado R$ 85,2
bilhões no processo,... o país pagara R$ 87,6 bilhões para vender suas
estatais. Portanto, pagou R$ 2,4 bilhões a mais do que recebera. Para chegar a
este cálculo, Biondi reuniu sete itens: “Vendas a prazo com dinheiro já
contabilizado, mas fora dos cofres públicos; dívidas absorvidas, juros de 15%
sobre dívidas assumidas; investimentos nas estatais antes do leilão; juros
sobre tais investimentos; uso de moedas podres e mais R$ 1,7 bilhão deixados
nos cofres das estatais privatizadas. “Mais cinco itens, entre eles custo das
demissões e compromisso com fundos de pensão, considerados incalculáveis, não
integram a coluna das despesas”.
Diante de tudo isto, agravado pelo surrealismo que estabelecera valor
zero às jazidas de minério de ferro da Vale do Rio Doce no processo de
privatização, jazidas que abasteceriam o mundo durante 400 anos, o Prêmio Nobel
de Economia de 2001, Joseph Stiglitz “cunhou um neologismo ácido ao” denominar
briberization às privatizações na América Latina, sendo que bribery
“constitui-se crime e significa oferecer, dar, receber ou solicitar qualquer
bem ou valor para influenciar as decisões de funcionário público ou outra
pessoa em cargo de confiança”. A palavra bribe, segundo o livro, desde o séc.
XIV, é usada como “jargão de ladrões”. Talvez, por isso, o ex-ministro de FHC,
Mendonça de Barros, mesmo compondo o conluio áureo-celeste, classifique seus
concorrentes tucanos, encabeçados por Carlos Jereissati, de “ratada” ou de
“telegangue”.
Amaury Jr. desmascara, no livro Privataria Tucana, as cartas marcadas do
volumoso saque, apontando, corajosamente, para grandes nomes da política e do
empresariado brasileiro, como Daniel e Verônica Dantas, Mário Covas, Marcelo
Alencar, José Serra, Verônica Serra e seu marido Alexandre Bourgeois, Gregório
Marín Preciado (“primo torto” de Serra), Ronaldo de Souza, Carlos Jereissati
(irmão de Tasso)... todos orquestrados por um grande maestro, o Sr. Ricardo
Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro das campanhas de FHC e José Serra,
contemplado com a diretoria da área internacional do Banco do Brasil, de onde
concedeu e influenciou muito empréstimos aos privatas e a supostos laranjas,
como ao “primo torto” de José Serra que, devendo R$ 448 milhões ao BB, obteve
um abatimento para pagar, somente, R$ 4,1 milhões. Depois de lido o livro, só
nos resta uma dúvida: Será que pagou?
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