Acabo de ler o livro A Mente sem
Medo, compilações de palestras realizadas por Jiddu Krishnamurti em 1964, em
Saanem, Suíça, editado pela Cultrix, com 93 páginas. Palestras, como as
intituladas O que é Aprender, Comunicação e Comunhão, A Compreensão do Medo, A
Totalidade da Vida, A Mente Iluminada, entre outras.
O livro é cansativo, do começo ao
fim. Apela para a profundidade, mas é superficial e repetitivo. Restringe-se a
convidar os espectadores a comungar, sem contestações, o ponto de vista do
autor. Nega qualquer tipo de metodologia, baseado na unicidade do indivíduo,
mas propõe o despojamento de todo saber, de toda intenção ou intencionalidade,
a partir de um esvaziamento total, que venha a confundir criatura e criação,
numa fusão completamente sensorial. Nega as religiões ocidentais e orientais,
nega o esforço meditativo, nega os conceitos políticos, filosóficos e
sociais... parece negar tudo, afirmando que havendo os desejos, os ideais, os problemas...
relegados à insignificância, o homem alcança a verdade e a liberdade.
Técnicas meditativas, como a de Maharishi
Mahesh, como as que pudemos viajar nos livros de Carlos Castañeda ou as da
Yoga, ou mesmo os estados de SER para além do tempo, como o da menina que come
chocolates do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa... todas são negadas por
Krishnamurti, porque surgem da vontade e, por isso, é despertada pelo EGO, que
deve ser eliminado.
Resume o cristianismo ao sacrifício
e o comunismo ao endeusamento do Estado. Postula um estado de não tempo, mas
credita as especialidades técnico-científicas, como se o movimento existencial
mecanicista, tecnocentrista, egoísta, fosse compatíveis com vidas
independentes, como se qualquer cidadão, pedreiro, piloto, soldador, militar...
pudesse compatibilizar suas vidas fora de uma perspectiva de tempo, talvez
possível para o conferencista Krishnamurti.
O livro e o pensamento do autor não
são de todo ruins. Têm afinidade com os estoicos, com os epicuristas, cínicos e
anarquistas; põe o amor como bem maior e
propõe o “enfrentamento” aos condicionamentos, só que é um enfrentamento sem
enfrentar. O discurso pode ser comparado ao dos Tropicalistas, quando dizem que
“pode ser tudo, inclusive nada”, rsrsrsrsrrsrss...
Perplexos leitores, perdoem-me a
acidez, pois o livro é pequeno e, se não corresponde à expectativa deste leitor
que vos escreve, ao menos suscitou vários questionamentos, o que representa
possíveis elucidações.
Ivan
Marinho é
Especialista
em Economia da Cultura, artista plástico e poeta.
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