sábado, 14 de janeiro de 2017

A MENTE SEM MEDO e sem noção de KRISHNAMURTI.

            Acabo de ler o livro A Mente sem Medo, compilações de palestras realizadas por Jiddu Krishnamurti em 1964, em Saanem, Suíça, editado pela Cultrix, com 93 páginas. Palestras, como as intituladas O que é Aprender, Comunicação e Comunhão, A Compreensão do Medo, A Totalidade da Vida, A Mente Iluminada, entre outras.
            O livro é cansativo, do começo ao fim. Apela para a profundidade, mas é superficial e repetitivo. Restringe-se a convidar os espectadores a comungar, sem contestações, o ponto de vista do autor. Nega qualquer tipo de metodologia, baseado na unicidade do indivíduo, mas propõe o despojamento de todo saber, de toda intenção ou intencionalidade, a partir de um esvaziamento total, que venha a confundir criatura e criação, numa fusão completamente sensorial. Nega as religiões ocidentais e orientais, nega o esforço meditativo, nega os conceitos políticos, filosóficos e sociais... parece negar tudo, afirmando que havendo os desejos, os ideais, os problemas... relegados à insignificância, o homem alcança a verdade e a liberdade.
            Técnicas meditativas, como a de Maharishi Mahesh, como as que pudemos viajar nos livros de Carlos Castañeda ou as da Yoga, ou mesmo os estados de SER para além do tempo, como o da menina que come chocolates do poema Tabacaria, de Fernando Pessoa... todas são negadas por Krishnamurti, porque surgem da vontade e, por isso, é despertada pelo EGO, que deve ser eliminado.
            Resume o cristianismo ao sacrifício e o comunismo ao endeusamento do Estado. Postula um estado de não tempo, mas credita as especialidades técnico-científicas, como se o movimento existencial mecanicista, tecnocentrista, egoísta, fosse compatíveis com vidas independentes, como se qualquer cidadão, pedreiro, piloto, soldador, militar... pudesse compatibilizar suas vidas fora de uma perspectiva de tempo, talvez possível para o conferencista Krishnamurti.
            O livro e o pensamento do autor não são de todo ruins. Têm afinidade com os estoicos, com os epicuristas, cínicos e anarquistas; põe  o amor como bem maior e propõe o “enfrentamento” aos condicionamentos, só que é um enfrentamento sem enfrentar. O discurso pode ser comparado ao dos Tropicalistas, quando dizem que “pode ser tudo, inclusive nada”, rsrsrsrsrrsrss...
            Perplexos leitores, perdoem-me a acidez, pois o livro é pequeno e, se não corresponde à expectativa deste leitor que vos escreve, ao menos suscitou vários questionamentos, o que representa possíveis elucidações.

Ivan Marinho é

Especialista em Economia da Cultura, artista plástico e poeta.

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