A
Águia e a Galinha – uma metáfora da condição humana – toma como princípio uma
história contada pelo educador e político James Aggrey em meados de 1925, ao
participar de uma reunião com lideranças populares para discutir estratégias de
libertação de Gana do julgo inglês.
Leonardo
Boff, professor da Universidade do Rio de Janeiro, doutor em Filosofia e
Teologia pela Universidade de Munique na Alemanha, ex-professor da Universidade
de Lisboa em Portugal, de Salamanca na Espanha, de Harvard nos Estados Unidos,
de Basel na Suíça e Heidelberg, também na Alemanha, além de doutor honoris causa
pela Universidade de Turim na Itália e Lund na Suécia, vem, neste best-seller
internacional, nos convidar a uma reflexão ampla, que vai do nosso terreiro ao
céu do cosmos, bem como do cosmos ao nosso coração. Para isso, se vale de um
gênero literário cultivado pelos hebreus e denominado de midraxe hagadá, que, ao contrário do midraxe halacá (que explicava e comentava, atualizando as leis
judaicas), ampliava histórias bíblicas acrescentando fatos reais, “legendários
ou fantásticos”.
A
partir da história contada por Aggrey numa reunião de onde germinaria a revolução
de independência de Gana, Boff não só pratica o midraxe hagadá recheando seu conteúdo, como desenvolve uma reflexão
holística, onde “tudo está relacionado com tudo”, contrariando o pensamento
científico moderno, nascido com Newton, Copérnico e Galileu, que, por não
conceber a complexidade, reduziu o complexo ao simples, compartimentando e
isolando, dando origem à infinidade de especializações.
Pra
encurtar a conversa, tentemos resumir a história do Aggrey e a midraxe do Leonardo:
Um
camponês capturou um filhote de águia numa floresta e a criou junto às galinhas
no terreiro. Depois de cinco anos recebeu a visita de um naturalista que ficou
estupefato em ver a águia se comportando como galinha. Insiste na tentativa de convencer
o camponês de que uma águia nunca seria uma galinha, até que resolveram subir a
um penhasco para testá-la. Tentaram várias vezes, mas, quando a águia via as
galinhas ciscando no chão, saltava para se juntar a elas. Na última tentativa a
águia se deparou com o sol, que a invadiu e a tomou por inteiro. Abriu as asas
e voou “até se confundir com o azul do firmamento...”.
Afirmando,
constantemente, sua opção pelos mais pobres, bem como pela natureza gregária do
homem, Leonardo Boff fez uma ponte entre o homem e a águia, imaginando que o
“homem-águia é como um anjo que caiu do seu mundo angelical e, ao cair, perdeu
uma de suas asas...” e que “para voar tem que abraçar-se a outro anjo que
também caiu e perdeu uma asa”.
O
livro, como as palestras de Leonardo Boff, que encontramos facilmente no You
Tube, é um chamamento, grave e sereno, para um mergulho no “Abismo insondável
de realização e de bem-aventurança, Deus”. Quando “seremos unos no Uno.
Convergentes na fusão e diversos na comunhão”.
Na
página 175, beirando o final do livro, como quem conclama a libertação, Boff
declara: “Poderes mundiais têm interesse de manter o ser humano na situação de
galinha. Querem apagar de sua consciência a águia. Por isso a grande maioria da
humanidade é homogeneizada nos gostos, nas ideias, no consumo, nos valores,
conforme um só tipo de cultura (ocidental), de música (rock), de comida (fest
food), de língua (inglês), de modo de produção (mercado capitalista), de
desenvolvimento (material)”.
Leitura
pertinente com o Brasil de 2016, quando as asas do povo começavam a se abrir e
o poder conservador e usurário se mobiliza para cortá-las.
Ivan Marinho de Barros Filho
Especialista em
Economia da Cultura, poeta e artista plástico.
Ótimo!
ResponderExcluirPermitiu-se voar!